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Amanda Silva
Amanda Silva

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Depois do layoff, e a vida, como fica?

Carta aberta para todas as pessoas atingidas por uma demissão em massa...

Esse texto marca a minha volta à escrita, com o coração um pouco quebrado, mas com um sentimento que precisa ser externado.

Quero começar esse texto dizendo que layoff não se trata de uma demissão em massa, segundo o Guia trabalhista, "O termo lay-off, derivado da língua inglesa, nos remete a uma situação de suspensão temporária do contrato de trabalho, seja por falta de recursos financeiros (pagamento de salários), seja por falta de trabalho/atividade que ocupe toda a mão de obra da empresa."

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Tradução: lamentamos anunciar a seguinte dispensa

Depois de quase 02 anos em uma empresa que foi o meu maior sonho profissional, eu fui uma das pessoas atingidas por uma demissão em massa que afetou mais de 200 pessoas no fatídico 27/02/2023, em uma ligação que durou pouco mais de 3 minutos.

Não posso ser hipócrita em dizer que não foi uma boa experiência, muito pelo contrário. Durante esse período eu descobri uma potência que existia em mim que só precisava de uma oportunidade para ser lapidada.

Eu fui escutada todos os dias e minha opinião sempre levada em consideração. Tive apoio de pessoas incríveis, me desenvolvi em práticas de consultoria e tecnicamente. Fui até promovida. Muitas vezes servi de referência para apoiar outras pessoas em suas jornadas, ganhei bastante visibilidade com as participações em eventos da empresa e não preciso nem falar que com certeza foi o ambiente mais diverso e inclusivo que já trabalhei.

Eu quis tanto estar ali, fazer por merecer aquela oportunidade, não decepcionar ninguém que acreditou em mim e não permitir que nem por um segundo alguém duvidasse da profissional que sou, que durante esse período eu só não percebi uma coisa: Apostei todas as minhas fichas e em algum momento eu me perdi de mim mesma e vesti uma máscara de "preciso ser incrível, preciso ser um impacto extraordinário todos os dias o tempo inteiro".

Comecei a fazer de tudo além do que eu deveria fazer (e quero salientar que eu não era obrigada, fazia por querer mesmo ou por não saber falar não). Atendia a todas as pessoas e demandas que vinham surgindo cada vez mais, até chegar um momento que eu só estava cansada e no fundo até fiz coisas que eu não gostaria de ter feito, mas sempre sorridente e com muita boa vontade me colocava à disposição de todas, porque eu tinha que ser incrível.

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Agora eu percebo que já não escrevia mais, já quase não circulava em eventos em outras empresas, e não fazia mais quase nada que não fosse pela minha empregadora, que muito louco isso né, logo eu que sempre amei e fiz de tudo pela comunidade tech de coração aberto e sempre com boa vontade.

Infelizmente a minha jornada não foi fácil, já estive em ambientes tóxicos onde a síndrome da impostora foi implantada dentro de mim, me fazendo duvidar de mim mesma várias vezes e até pensar em desistir. Então, claro que chegar em uma empresa assim me deixou completamente deslumbrada, vestindo não só a camisa da empresa como a roupa toda.

Eu sempre achei estranho conhecer pessoas que passaram pela empresa, saíram e não falavam nada sobre, nem bem nem mal, só simplesmente enterravam o assunto. Hoje eu tenho o mesmo sentimento, é a primeira vez que estou falando sobre e pretendo que seja a última, não quero mais falar sobre.

Eu estou com sentimento de vergonha, ingenuidade, querendo fingir que tudo isso nunca aconteceu e de ter usado tanto a minha imagem para falar sobre a empresa. Hoje as pessoas me perguntam "Ué mas se era tão incrível, te descartaram tão facilmente assim?”, e eu não sei o que dizer, só sinto muita vergonha mesmo.

Passei (e passo) dias me questionando. O que eu fiz de errado, o que eu poderia ter feito melhor, será que foi um sorteio e eu tive a infelicidade de ser escolhida, será que trabalhar no laboratório de transformação social(laboratório esse que a própria empresa me alocou desde que eu saí da formação afirmativa para pessoas pretas para a qual eu fui recrutada) e não trazer lucros para empresa não pegou bem? Qual foi o critério?

Depois de receber uma mensagem de conforto de uma pessoa que não foi atingida, seguida de indicações de vagas para trabalhar com recrutamento(what? Fiquei aqui quase 02 anos e as pessoas não sabiam nem o que eu fazia?), só consigo chegar na conclusão que não é e nunca foi sobre mim ou qualquer outra pessoa que foi "eliminada" do jogo.

O problema não é ser demitida, todos nós estamos sujeitos. O problema é não escutar nem um muito obrigada, e de uma forma desumana sentir um rodo passando por cima de mim como um pano limpa o chão.

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E depois do "layoff", a vida como fica? Eu sinceramente não sei. Tive momentos de desespero, medo de ver a quantidade de pessoas que vem chegando no mercado diariamente, medo de rebaixar meu salário que lutei tanto para conquistar, medo de como será o próximo ambiente que irei trabalhar, medo de demorar muito para conseguir uma nova colocação e ter que me submeter à qualquer coisa.

Não posso afirmar que é um adeus... O desespero é tanto que esses dias cogitei até trabalhar em um local que foi racista comigo, então nunca se sabe o dia de amanhã.

A única coisa que posso afirmar é que PRECISO aprender a ter os pés no chão e não permitir que a pisciana que habita em mim se deixe levar pelo "sonho" de impactos extraordinários que não são os mesmos que os meus.

A minha meta é continuar fazendo um trabalho com excelência onde quer que eu passe, toda essa situação não me define, eu sei que sou uma ótima e comprometida profissional e que posso acrescentar muito em qualquer ambiente.

Para finalizar, como diz o Emicida na música "Levanta e Anda":

"Irmão, você não percebeu
Que você é o único representante
Do seu sonho na face da terra
Se isso não fizer você correr, chapa
Eu não sei o que vai"

Agora só resta me encontrar, estudar, traçar um plano em busca de uma boa recolocação, internalizar que vai ficar tudo bem e que na hora certa tudo vai dar certo...

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Top comments (8)

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FaruqueBraimo

Vai ficar tudo bem!

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Amanda Silva

Obrigada Faruque, vai ficar tudo bem!!!

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Marylly

Conta com a rede de apoio amada, nunca ficará sozinha! <3

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Amanda Silva

Mary obrigada pelo carinho, sem você eu nem estaria aqui. Vamos que vamos juntas!!!

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Vanessa Me Tonini

A reflexão que você fez e o entendimento do desconforto com certeza são os melhores aprendizados desse processo todo, e o seu texto com certeza vai ajudar muitas pessoas que estão passando ou irão passar por isto. Já sofri por uma demissão (não em massa) e foi muito difícil superar, e sim tudo vai ficar bem, o texto do Emicida trás muita lucidez ao que precisa ser focado. obrigada por escrever e conte comigo.

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Scar

o seu desabafo foi sincero e genuíno! muito obrigade pela escrita, fez muita diferença.

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Lisandra Cruz

Tu és incrível Amanda, obrigada por compartilhar.. conta comigo!

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Wagner Silva

Eu fui demitido por email , e era msm template dos informativos diários.