A diversidade e inclusão é muito mais complexa do que eu imaginava desde quando comecei a atuar em comunidades voltadas à educação de meninas e mulheres na tecnologia. Afinal, colaborar em projetos focados em impacto social é algo complexo, difícil e trata-se de um investimento a longo prazo. E, é claro: eu só fui descobrir isso quando coloquei minha primeira ação no ar.
Quero deixar explícito que o propósito deste texto não é só contar as dores do processo. As delícias também estão por vir. E veja só: são muitas! Ainda mais em ações efetivas que mesclam educação, tecnologia, meninas e mulheres!
Números sobre o universo da tecnologia
De acordo com o relatório da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia e Comunicação e de Tecnologias Digitais), calcula-se que as empresas de tecnologia demandem 797 mil talentos de 2021 a 2025, entretanto, a projeção para pessoas formadas nas universidades brasileiras nos cursos relacionados à tecnologia da informação, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos, em números totais, 530 mil em cinco anos.
Entretanto, o que a inclusão de meninas e mulheres na tecnologia têm a ver com esses números infinitos?
Diversidade e inclusão em empresas é bom para todo mundo. Ainda mais num país que encontra-se com altas taxas de desemprego.
Só no primeiro trimestre de 2022, o Brasil tem 11,1% de pessoas sem ocupação formal. Destas, com o recorte focado no sexo ficou em 9,1% para os homens e 13,7% para as mulheres*, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Os dados acima só confirmam que as mulheres são as mais afetadas nos momentos de crise econômica.
Antes, minha breve história com a tecnologia
Eu sou apaixonada por comunidades de tecnologia desde que era uma adolescente fascinada em trocar a cor do background do meu blogspot.com. A seguir, estudante de jornalismo maluca por códigos, dados e ciência.
Já formada, como repórter na redação, escrevi matérias sobre coberturas de eventos tech, a influência da tecnologia no dia a dia e muito frilas com personagens reais (e muito especiais!) que encontraram na tecnologia a realização profissional. Muitos deles garimpados nas comunidades, tão forte e essencial na área para troca de informações, aprendizados e diversão.
Até que em 2019 cruzei o oceano e fui realizar o sonho de estudar fora: mestrado no Porto, em Portugal. Especializei-me em Tecnologia da Informação. Um caminho em volta com vários sites no ar. Hoje, Developer Relations Relations!
E, finalmente: a atuação com as comunidades em tech
Já em 2021, junto com várias comunidades, principalmente a Mais Meninas na Tecnologia, projeto social na qual fundei, desenvolvi campanhas e ações focadas na inserção de mais mulheres (e todas as suas interseccionalidades!) e meninas na tecnologia, em diferentes jornadas, principalmente em transição de carreira, universitárias e estudantes de escolas públicas entre 8 e 10 anos moradoras das periferias em São Paulo.
Os aprendizados foram inúmeros, mas elenco alguns dos principais:
1. A síndrome da pessoa impostora é forte no processo de aprendizagem. Muitas mulheres e meninas não acreditavam nas suas habilidades, ou seja, que ainda estavam em desenvolvimento. Motivá-las no processo foi fundamental! Seja como uma frase motivacional ou até mesmo um abraço!
2. A força da comunidade é imensurável, mas é um trabalho de formiguinha. Diário, constante e demanda muita dedicação. Por exemplo, a resposta a uma dúvida postada no fórum, uma mensagem no grupo do telegram, a curadoria dos profissionais em eventos e mentorias… são todas ações que fazem a diferença!
3. É preciso entender o contexto de cada pessoa, principalmente aquelas que encontram-se em vulnerabilidade social. Não adianta cobrar a mesma performance de uma pessoa que possui o próprio computador, internet estável e um local tranquilo para estudar, com outra que precisa codar pelo celular, por exemplo. E isso é sobre real diversidade e inclusão.
4. Mais do que atuar em ações com pessoas já na fase de transição de carreira ou na universidade, por exemplo, eu aprendi que a verdadeira falta de inserção de mais meninas na tecnologia está ainda na infância, no estímulo às crianças a partir de brinquedos e atividades que estimulem as ciências exatas e habilidades motoras.
5. Atuar com tecnologia é sempre estar disposto a resolver problemas. Não há como fugir. É preciso ter resiliência o tempo todo. Às vezes, você pode perder 3 dias na resolução de um bug e precisa estar ciente disso. Além de sempre estudar, ler a documentação e testar. Só na prática que de fato acontece o aprendizado.
Destaco que as minhas experiências foram voltadas para mulheres, meninas, pessoas trans e travestis. Mas a diversidade e inclusão vai muito além para outros grupos. Esses foram alguns dos aprendizados. E, sigo à disposição para novas experiências e sempre consolidando a comunidade tech para que seja mais diversa e inclusiva.
*Não há informações sobre outras interseccionalidades, por exemplo, pessoas trans e travestis.
Top comments (7)
Parabéns, muito necessária sua descobertas e ações. Obrigado por compartilhar.
Adorei o texto! 👏🏼 Acho que nós mulheres somos culturalmente ensinadas a não aceitar a ideia de que podemos falhar. Acredito que ensinar uma pessoa a programar é ensinar também que falhar é preciso, que falhar é necessário. E que não há nada de errado com isso.
obrigada demais, jessica! exatamente, saber falhar e estar à disposição de que isso irá acontecer! Muito obrigada pelo comentário ❤️
Muito legal esse post. Queria mais conteúdos como este. Quem sabe até um "How to" para criar uma comunidade ou como ajudar uma comunidade ou até mesmo como encontrar essas comunidades Tech.
Parabéns!!
valeu demais, robson! Vou escrever, ein? Adorei a sugestão!!! Aguarde que vou pensar num artigo sobre o tema :)
Muito massa seu conteúdo Lari! Sua jornada e seu trabalho são inspiradores. Quero aprender muito contigo ainda
ahhh, gi! obrigada você! saiba que é recíproco ❤️❤️❤️