O ano é 2022, em janeiro, quando decidi que faria um intercâmbio na Irlanda. A partir dessa decisão muita coisa mudou.
Para cumprir o planejado, teria que primeiro adiantar a faculdade de Matemática para conseguir terminar no final do ano, pegar o diploma e viajar. Além disso, mergulhei de cabeça no mundo do desenvolvimento. O plano era começar a trabalhar no Brasil pra ter uma experiência quando fosse pra Irlanda. E quase tudo deu certo.
Tenho muito a agradecer à mentoria Conquiste Sua Vaga, que me ajudou em dois aspectos pessoais que tenho dificuldade e me possibilitou conseguir meu primeiro estágio.
A primeira dificuldade que tinha era me isolar durante os estudos, achando que poderia me tornar excelente sem a ajuda das pessoas e, como uma consequência imediata do fato de eu ter me tornado muito bom em algo, eu fosse ser automaticamente notado. É como se eu sempre ficasse adiando o networking para algum momento do futuro, onde eu me considerasse pronto, mas obviamente esse momento nunca chegava. A mentoria me mostrou a importância de se apoiar em comunidades durante a jornada de dev. O fato é que cedo ou tarde a Síndrome do Impostor ataca e é fundamental pedir ajuda a outras pessoas que atravessam fases parecidas. Além do mais, percebi que, quando discutia problemas com outras pessoas, não só me tornava melhor tecnicamente, como me desafiava a melhorar cada vez mais minha comunicação. Compartilhar os aprendizados e conversar com pessoas de dentro de empresas, também, não é só proveitoso para os outros, mas para se tornar notado e se apresentar desde já como uma parte integrante do mercado, mesmo que a oportunidade ainda não tenha se mostrado.
Outra dificuldade que me prejudicou muito no passado é que eu tinha muitas ideias, começava a trabalhar entusiasticamente nelas, mas raramente as finalizava. A filosofia proposta pela mentoria de codar todo dia foi fundamental para me manter estimulado, mesmo em dias em que eu não conseguia encontrar vontade. Eu não precisava me cobrar que tinha que codar por horas todos os dias da semana. E também não deveria me dar por satisfeito em assistir 10h de curso e não produzir nenhum código. Posteriormente, aprendi sobre a filosofia Agile e conheci o Scrum, o que me permitiu entender melhor porque eu não conseguia finalizar os projetos pessoais que me propunha a fazer. Agora, dividindo um projeto em tarefas mais simples e bem definidas, estipulando prazos e uma ferramenta para planejamento que me oferece bastante flexibilidade.
Em 6 meses de muito estudo consegui meu primeiro estágio. A história é interessante e traz alguns aprendizados. Conheci a empresa a partir do relato de pessoas sobre o seu estágio, que promovia um processo de formação interna e, em seguida, atuação em projetos reais. Entrei em contato com alguns dos estagiários e eles foram muito gentis em me explicar como era e que eles recomendavam demais. Em seguida, entrei em contato com a pessoa responsável pelo estágio perguntado sobre quando abriria o próximo processo de seleção. Cerca de um mês depois eu estava me candidatando para o desafio técnico que envolvia React com validação de formulário, o que tinha sido exatamente meu último projeto pessoal, então as informações estavam frescas. Passei para a fase da entrevista, onde a mesma pessoa que eu tinha conversado no LinkedIn a um mês fez algumas perguntas sobre o projeto que havia desenvolvido no desafio técnico. Consegui a vaga e soube no feedback que um dos motivos era que ele tinha percebido que eu realmente estava motivado, dada a minha insistência de fazer perguntas pelo LinkedIn. Lição aprendida: claro que o bom senso é fundamental, mas pedir ajuda no LinkedIn e fazer perguntas dificilmente será visto com maus olhos.
O período do estágio foi sensacional. Em cerca de 7 meses fiz uma trilha de aprendizados envolvendo JavaScript, Git, TypeScript, React, React Native, Next, testes e Docker. Em seguida, parti para trabalhar em um projeto real, desenvolvendo um aplicativo para o gerenciamento de uma propriedade agrícola. React, React Native e NestJS, tudo que eu tinha estudado estava lá, dessa vez com uma base de código muito maior que deveria ser aprendida, para além das tecnologias. Em 3 meses trabalhando no projeto eu estava bem feliz, desenvolvendo funcionalidades das quais me orgulhava, como a utilização de mapa para marcação de pontos da propriedade e cálculo de área, mas chegou o dia de ir pra Irlanda e eu sabia que não poderia mais ficar no estágio, por conflitos de horário e questões financeiras. Depois de um mês trabalhando da Irlanda, tentando conciliar a diferença de fuso e a escola de inglês, pedi pra sair.
Durante os 6 meses seguintes após minha saída, trabalhei em uma cozinha de restaurante, um estádio e uma cafeteria, enquanto mantinha a rotina de estudos e desenvolvi minha página de portfólio. Algo surpreendente também aconteceu no segundo mês do meu intercâmbio. Comecei um hackathon um pouco antes de sair do Brasil organizado por uma empresa de rerutamento do Reino Unido em parceria com o Manchester City. Pela primeira vez eu trabalhei com pessoas que não falavam português e o resultado não poderia ter sido melhor. Recebemos a notícia que nosso projeto foi finalista entre os 10 melhores e que eles custeariam nossa viagem para Manchester para apresentá-lo no estádio do Manchester City, onde eles decidiriam o vencedor. A princípio, custei acreditar, achando que era algum tipo de golpe, mas aos poucos a ficha foi caindo e, de fato, me dei conta que era real quando fiquei de pé no auditório do estádio para apresentar em inglês para uma plateia de diversos lugares do mundo e eu sendo o único brasileiro ali. Não levamos o prêmio, mas eu já tinha chegado mais longe do que poderia ter imaginado.
Outro projeto interessante que desenvolvi ao longo desse tempo foi uma aplicação que buscava resolver um problema do lugar onde trabalhava. Nós recebíamos muitos pedidos de sanduíches por email das empresas. A loja trabalhava com receitas específicas de sanduíches, mas o cliente também poderia montar o seu próprio com os ingredientes disponíveis. No entanto, como os pedidos eram feitos por texto, faltava uma padronização (os ingredientes apareciam nas mais diversas ordens e muitas vezes o cliente se esquecia de especificar o tipo de pão), além de não ser intuitivo para o cliente escolher os itens, fazer uma modificação (tipo tirar a cebola) e manter um histórico para realizar novos pedidos. Tentei vender o "produto", mas, apesar dos elogios, o dono não queria arriscar acrescentar mais softwares em meio a tanto que eles usavam. Mesmo assim, foi bastante interessante poder criar uma solução para um problema real e tentar vender algo idealizado e executado por mim.
Infelizmente, meu plano de trabalhar como dev em Dublin não funcionou. O mercado esfriou e 1 ano de experiência era muito pouco para alguma empresa estar disposta a patrocinar um visto. Decidi voltar para o Brasil para tentar e continuar me aprimorando e trabalhar na área que me sinto bem. Apesar de não conseguir trabalhar como desenvolvedor na Irlanda, estar lá me proporcionou muita coisa que seria inimaginável, como participar de um encontro na sede do MongoDB com direito a pizza e conversa com pessoas geniais que trabalhavam em Big Techs com Google e Microsoft. Me senti no próprio Vale do Silício. Hoje, no aeroporto a caminho do Brasil, estou desenvolvendo um método de estudo/prática/networking para conseguir minha próxima vaga. Mantendo a constância no método, tenho certeza que não é uma questão de se, mas de quando conseguirei a próxima vaga. Escrever esses artigos é uma forma de me manter seguindo uma trilha bem definida e ajudar pessoas que estão passando por processos parecidos. No próximo artigo, explicarei quais são os fundamentos do método, materiais que estou usando para estudar e como estou utilizando o Notion para planejar tudo. Toda segunda lançarei aqui um artigo mais técnico (pode ser algo sobre JavaScript, React, Next e seu ecossistema) e toda sexta uma atualização em formato de diário sobre o que foi possível executar ao longo da semana, erros e aprendizados, além de delimitar os planos para a próxima. Vamos juntos!
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