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Gabriel Fernandes
Gabriel Fernandes

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A Arte e as Novas Tecnologias

Continuando na minha jornada em entender como foi o principio da tecnologia na historia da arte, talvez para tentar entender uma pouco mais o movimento natural das IA’s na nessa nova etapa da tecnologia, ou para expandir um pouco os horizontes para quando falarmos das aplicações tecnologicas irmos além do que possamos estar acostumados.

No artigo anterior falamos em como a fotografia reviolucionou a arte e quão impactante foi a ponto de motivar toda uma geração de pintores a “iniciar’ um novo moviemento, que não mais buscava representar as figuras de maneira perfeita, mas sim marcada por contornos imprecisos e pinceladas rápidas, hoje conhecido como Impressionismo.

Abaixo podemos ver aquela que foi considerada a primeira fotografia permanente do mundo:

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Joseph Nicéphore Niépce, "Ponto de vista de Gras"(1826-27)

Portrait

Ainda seguindo aquele modelo bem parecido de grandes câmeras e fotos realizadas por fotógrafos profissionais, período onde era até mesmo comum o registro fotográfico de pessoas já falecidas, caso elas nunca tivessem sido retratadas na vida.

Mas já ao final do séc 19, as câmeras se tornaram cada vez mais portáteis, democratizando bastante seu uso, onde artistas as usavam para representar suas obras, registrar e vender; divulgando assim seu trabalho.

Thomas Eakins

Thomas Eakins, "Estudo de movimento humano"

Era interessante notar que as pessoas que queriam ser modelos e retratadas apenas tiravam suas fotos, e os pintores se encarregavam de pintá-las, sem que a pessoa precisasse ficar por horas posando. Nesses momentos, também era comum que jóias e adereços fossem emprestados a esses artistas para uma representação mais fidedigna.

Frans Xaver

Franz Xaver Winterhalter, "Eugénia de Montijo (1853)"

Já no séc XX, sobretudo na arte contemporânea, a fotografia também já serve como registro duradouro de artes efêmeras, que se esgotam naturalmente. Ora representando um artista executando uma ação a qual ele não ficará repetindo eternamente; ora representando intervenções na natureza, ora grafites em prédios condenados à demolição e muitos outros... tendo a obra seu caráter perecível no geral.

A obra se vai, o registro permanece. (?)

Cont. art
Anne Imhof, "Faust" (2017)

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Richard Long, "Círculo do Saara" (1988)

Agora, a fotografia como arte por si só levou muito tempo para se tornar popular, conseguindo tal feito finalmente por volta dos anos 80, com a chamada fine art photography.

fine art photography

Cindy Sherman, "Sem título n96" (1981)

É interessante pensar que as primeiras fotografias coloridas datam de meados de 1870, porém só são amplamente adotadas quase 100 anos depois. Por muito tempo, a fotografia a cores era considerada, por diversos fotógrafos e fotojornalistas, amadora, onde contraste e luz eram mais importantes para a "Verdadeira Fotografia", e as cores poderiam atrapalhar o foco dessas características principais. Algo similar aconteceu um pouco depois, com o surgimento das câmeras digitais, onde profissionais muitas vezes optavam por permanecer com suas câmeras analógicas, não aderindo então às novidades.

Um dos mais conhecidos fotógrafos, que migrou da analógica para o digital, foi o brasileiro Sebastião Salgado.

By Sebastião Salgado

Sebastião Salgado, fotografia da série "Amazônia" (2013-2019)

É válido ressaltar também que cada etapa nessa cronologia não fez com que todos mudassem sua maneira de fazer arte ou invalidou a que veio antes. Cada meio de expressão, seja ele foto, pintura ou escrita, está estritamente ligado ao que o artista busca transmitir, e todos carregam seus nítidos critérios.

A tecnologia muitas vezes não destrói ou substitui a arte, e é inegável que ela consegue mudar a maneira como a arte é feita; quando, muitas vezes, não expande seus horizontes.

Muito se fala da fotografia como protagonista da tecnologia no meio da arte, mas devemos sempre lembrar que ela não foi a única.

A videoarte, por exemplo, derivada da fotografia, também carrega seu caráter de registro permanente de algo efêmero, transmitindo e guardando para o futuro.

Nesse quesito, podemos citar artistas conhecidos que transitaram e flertaram com as tecnologias, como Dali e Picasso, que também tiveram suas participações em filmes.

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Cena de Um cão andaluz, de Salvador Dali e Luis Buñuel (1928)

Nos anos 50 a TV se torna cada vez mais comum e em 60 temos o renascimento de Hollywood. O que sem duvida contribuiu e muito para que esse modelo artístico fosse consumido amplamente.

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E após o cinema, o que temos de mais recente ainda, são as chamadas Vídeo instalações

Obras com fatores modernos, como vemos abaixo , o artista não mostra um vídeo só, mas uma série deles, que são mostrados ao mesmo tempo em televisores, organizados dentro dos estados que compõe o mapa dos Estados Unidos da América, contornados por neon.

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Nam June Paik, "Eletronic Superhighway: Continental U.S., Alaska and hawaii" (1995)

Vemos abaixo outro exemplo de instalação tecnológica que se gaba de luzes e de projeções… Primeiro porque é divertido e segundo porque mostra ainda mais o domínio da tecnologia pelo artista, e as possibilidades promovidas pela mesma.

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Janet Echelman, "Filtro de sonhos" (2001)

Imagine-se num quarto vazio com paredes brancas, você já consegue se expressar ali de alguma maneira; agora pense que te deram um lápis… agora pense que te deram um pincel e uma tinta… agora pense que te deram uma câmera, uma filmadora… pense que te deram um aparelho de som…pense que te deram um projetor… Entende como as possibilidades seguem os avanços tecnológicos?

Uma coisa muito interessante também é ver como que, por vezes, os artistas não conseguem concretizar uma arte que eles idealizaram sozinhos, e precisam de suporte de terceiros para conquistar esse fim, algo bem presente na Arte Contemporânea.

O que vemos abaixo é um exemplo disso, uma instalação localizada no Museu do Inhotim, MG, Brasil. Onde a artista Janet Cardiff teve suporte de um engenheiro de som para construir essa sala acústica, onde alto-falantes posicionados estrategicamente reproduzem a voz de cada integrante de um coro, que canta “Spem in Alium”, do inglês Thomas Tallis.

Cada alto-falante contendo a voz de 1 única pessoa, reproduz a ideia de estarmos mesmo na presença de todo o coro, ainda mais quando nos aproximamos de um determinado canto desta sala, instalação a qual já visitei e recomendo fortemente.

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Janet Cardiff, "Forty Party Motet: (A reworking of 'Spem in Alium' by Thomas Tallis 1573)" (2001)

E, por fim, não poderia deixar de mencionar o impacto da tecnologia no estudo da arte, que provavelmente você esteja utilizando agora. Ela é capaz de nos mostrar a qualquer momento uma obra de arte de nossa escolha em detalhes e cores. Onde, não muito tempo atrás, isso era algo exclusivo de livros que muitas vezes continham representações artísticas somente em preto e branco, e as pessoas tinham que imaginar as cores.

E esses foram alguns dos exemplos nos quais me baseei para dissertar um pouco sobre como a tecnologia surge e contribui para a arte em diversos sentidos. Poderia dizer até um pouco mais, citando exemplos mais recentes ainda, como as obras de projeção mapeada, usando projeções em esculturas, a fim de simular seu movimento; artes em realidade virtual, como as da artista Marina Abramovic; obras de arte interativas, imersivas e muito mais.

Para mim, é muito interessante conhecer tudo isso e estar presente neste mundo de possibilidades. Porque tudo mostra o quanto a tecnologia não é só aquilo que usamos e debatemos enquanto programadores, quando vemos ali um novo framework inovador ou uma solução mais otimizada para nossa necessidade específica. Mas sim, como ela é versátil e capaz também de promover evoluções a níveis tanto individuais como coletivos, e o faz muito bem.

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