Texto originalmente escrito em 29 de janeiro de 2022
No dia 27 de novembro, comecei minha jornada um tanto estranha para quem é de fora do mundo da tecnologia: Comecei a usar o Android (que é um sistema da Google) sem os apps da Google. O quão bizarro ou maravilhoso pode ser usar o sistema do robozinho verde mais privativo? Essas são minhas conclusões:
Mas afinal, qual o motivo dessa experiência?
O ponto é simples: abra o “My Activity” da sua conta na Google e veja tudo o que você fez. Reconhece aqueles aplicativos que você abriu? Como o Google sabe de tudo isso? Como ele coleta esses dados e pra quê ele usa isso?
Existe uma forma para que a Google pare de coletar meus dados? A resposta é sim, mas exige alguns passos mais avançados. Então basta eu trocar meu sistema operacional, certo? Bem…
Quando o assunto é sistemas operacionais mobile, você deve imaginar em apenas dois nomes: O Android e o iOS (também conhecido como “o do iPhone”). Ambos são muito práticos e são os sistemas que todas as pessoas estão acostumadas a usar no seu dia a dia. Mas existem outros também, embora sejam mais para nichos e usos específicos.A maioria deles são baseados em Linux, como o Ubuntu Touch, o PureOS da Librem, Sailfish OS e o postmarketOS.
Mas uma coisa que esses sistemas alternativos pecam é na comodidade. Vários apps não possuem uma versão para aquele sistema operacional. WhatsApp, Uber, entre outros não existem. Você pode instalar uma camada de compatibilidade do Android, mas envolve processos mais avançados e em casos extremos, é necessário até patchear/recompilar o kernel.
Agora se você usar Android, nem precisa se preocupar com isso. Basta baixar o app e usar. Mas o Google vai continuar coletando dados. É aqui que temos o pulo do gato.
Segundo ponto: Privacidade sem largar a comodidade
Muitos aplicativos necessitam do Google Play Services, um app da Google que funciona como um conjunto de bibliotecas para os apps funcionarem… Ok, vejamos de outro modo.
Para alguns apps funcionarem, eles necessitam de alguns códigos que só existem no Google Play Services. Acesso a GPS, uso de alguns serviços na nuvem, etc. Sem o Google Play Services, o seu Uber não vai detectar sua localização e seu WhatsApp não vai receber notificação. Você só receberá mensagens quando abrir o app. Bem incoveniente, né?
Para contornar esse problema, existe um substituto ao Play Services: O Projeto MicroG, mantido pelo desenvolvedor alemão Marvin Wißfeld. Essa implementação é de código aberto e não conta com os rastreadores da Google. Existem algumas formas de instalação, mas…
Terceiro ponto: O sistema funcionaria de forma idêntica ao original. Porém…
Entrando em termos mais técnicos, o que fiz foi: Baixar a variante da LineageOS (sistema operacional baseado no Android Open Source Project) chamada LineageOS for MicroG. Explico mais sobre como fazer isso em um post futuro.
Baixando o LineageOS for MicroG, tudo já vinha configurado. Bastava “flashear” o sistema e tudo certo. E… Foi exatamente isso que aconteceu. Não foi necessário configurar mais nada, só precisei logar minha conta da Google para o YouTube.
A loja de aplicativos não é a Play Store, mas por padrão vem o F-Droid: Uma loja de aplicativos Android com o diferencial de ter apenas aplicativos de código aberto. E não, você não encontrará o WhatsApp, por exemplo. Para isso, é necessário o download de outra loja: Aurora Store. Nele, você pode logar em uma conta anônima e usar a Play Store sem rastreio algum. Todos os aplicativos estão lá.
Inclusive, caso queira substituir aplicativos proprietários para código aberto, você pode conferir esse guia no GitHub.
Após algumas semanas usando o Android dessa maneira, algumas coisas curiosas aconteciam. App do Uber simplesmente parou de pegar minha localização. Minha cidade não é lá tão grande mas caso eu estivesse em um local desconhecido, teria que usar métodos neandertais para me localizar: Pedir informação.
Da mesma maneira que o Uber me deixou na mão, o WhatsApp parou de receber notificação. Algumas mensagens urgentes eu simplesmente não via pois não tenho costume de abrir o WhatsApp a não ser que eu receba notificação ou queira mandar mensagem pra alguém. Mas notificações não chegavam, o que me forçava abrir o app algumas vezes e me deparar com mensagens de uma hora atrás no limbo.
Como quis me desapegar de aplicativos do Google, usei outros alternativos daquela lista lá. Todos funcionam muito bem e alguns uso até hoje depois da experiência. Mas eu uso bastante meu computador e os serviços da Google funciona tudo pela nuvem. Um texto que escrevi no Google Keep poderá ser acessado depois no meu computador e vice versa. Eu tive que abrir mão disso e foi bem sofrido.
Outro ponto negativo foi que o app que gerencia o MicroG simplesmente não abria mais. Caso eu quisesse adicionar uma nova conta do Google, não poderia. Ligar/desligar algumas funções? Esquece.
Conclusão: Valeu a pena?
Se você quiser mais privacidade e considera o uso das bibliotecas da Google pelo MicroG, esteja ciente que tem altas chances de que nem tudo irá funcionar. Algumas vezes é necessário apenas marcar uma opção nas configurações, outras nem solução você terá. Não tenho nada contra a Google e uso seus serviços sem problema nenhum.
Na minha experiência houve mais contras do que prós, então não tive problema em voltar a usar meu celular como sempre usei. Inclusive, em um próximo post eu mostro como é meu celular, meus aplicativos e como organizo minha vida digital.
Abraços e se cuidem.
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