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LeonardoMarques
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Uma breve história de infraestrutura - Parte 1: Mainframes.

Disclaimer: _A intenção do artigo é expor meu entendimento do assunto, não sou especialista. Pelo contrário, estou em fase de estudo, então me avisem se eu me equivocar em alguma explicação.

Este artigo é um resumo do vídeo Entendendo "Devops" para Iniciantes em Programação (Parte 1) | Série "Começando aos 40" do Fabio Akita. (Link)

Meu objetivo é entender melhor o caminho que percorremos desde o mainframe até as infraestruturas modernas com Docker e Kubernetes. Nessa parte 1, buscarei traçar uma linha histórica em alto nível dos anos 60 até meados de 2010.

Mainframes

Essa história começa nos anos 60, onde os mainframes reinavam. Eles eram máquinas imensas numa época onde o hardware era muito caro. Não eram tão poderosas, então alguns processos demoravam para executar, como a escrita (output) por exemplo. Com diversas pesquisas e estudos aliado ao avanço do poder das máquinas, foi possível particionar o mainframe para rodar mais de uma kernel (componente central de um sistema operacional responsável por ser o elo entre hardware software) por vez, cada um com seu sistema operacional e acesso a uma parte real dos recursos de I/O. Dessa forma foi possível otimizar melhor os recursos e ganhar produtividade.

Primeiras gerações de websites

Avançamos até os anos 90, com o hardware se tornando mais acessível a pequenas empresas, as máquinas se tornando mais poderosas e novas pesquisas e tecnologias surgindo. Nessa época a experiência do Unix foi trazida para o Linux permitindo multiusuário e multitarefa. Foi um cenário favorável para o surgimento de um novo modelo de negócios: empresas começaram a prover sites ao preço de uma assinatura mensal. Esses serviços de hospedagem conseguiam prover dezenas de sites numa mesma máquina, dividindo os recursos e o acesso utilizando o recurso de Virtual Host dos servidores web (mapeando urls para pastas de estáticos ou ativando programas cgi). Assim surgiram as primeiras gerações de websites usando a famosa stack LAMP (Linux, Apache, MySQL e PHP). Mas como é de se esperar, aqui começamos a ter muitos problemas de segurança. (se quiser aprofundar, veja o vídeo completo)

Container vs Virtualização

No início dos anos 2000, algumas pesquisas começaram a dar frutos. Nessa época tivemos tentativas de limitar o que um processo poderia fazer isolando recursos de uma mesma máquina com as tecnologias Jail(FreeBSD), LinuxVServer e containers de Solaris. Na prática essas soluções são baseadas em mentiras que o kernel conta para os processos fazendo-os acreditarem que possuem mais recursos e acessos do que realmente têm. A esse conceito damos o nome de containers.

Em contrapartida, a virtualização apesar de também querer otimizar recursos de uma mesma máquina, possui duas abordagens diferentes:

  • Bare Metal: Gerencia e compartilha recursos reais da máquina. Por isso os mainframes eram muito eficientes, cada máquina virtual tinha acesso a recursos reais de I/O.
  • Hosted: Um programa especial chamado Hypervisor que executa em um sistema operacional(SO) hospedeiro simula uma máquina virtual (recursos) executando um SO convidado. Consequentemente gera um peso grande de execução. Exemplo: VirtualBox

Com essa definição podemos entender a grande diferença entre virtualização e containers. Containers faziam processos executarem de forma restrita num mesmo sistema operacional. Já a virtualização, permite que um processo rode como se fosse numa máquina real ao virtualizar uma máquina inteira com um SO até mesmo diferente do SO original da máquina real. Essa virtualização é chamada de completa.

Apesar da vantagem da virtualização de conseguir executar um Linux numa máquina Windows por exemplo, isso era um processo muito lento e pesado pois o Hypervisor precisava "mentir sozinho" quando os processos precisavam fazer system calls. (Chamadas a instruções do kernel) Como evolução, surgiu a paravirtualização onde agora o SO também consegue mentir para os processos, tornando o desempenho do SO convidado melhor diminuindo a dependência do Hypervisor.

Visando ainda mais performance, a AMD e Intel começaram a trazer instruções de máquina específicas para virtualizações, tornando o desempenho quase de uma máquina real.

O início da infraestrutura como código

Esses avanços na virtualização se tornaram muito importantes para empresas que tinham que gerir datacenters. Pois poderiam de forma performática dividir os recursos das máquinas para diversos clientes diferentes. Mas configurar diversos servidores, com máquinas virtuais, redes e aplicações era uma tarefa bem trabalhosa. A tecnologia VPS(Virtual Private Server) da Microsoft aliviou esse problema. Ela conseguia automatizar a criação de máquinas virtuais usando imagens de SO (snapshots) tornando possível subir uma máquina nova em minutos. Mas isso ainda não resolvia o problema das empresas que precisavam gerir uma infraestrutura bem mais complexa.

Diante do quão trabalhoso era prover uma infraestrutura do zero "na mão", em 1993 já começavam a surgir ferramentas para automatização desse processo como a CFEngine (em 1998 a CFEngine3). Com essa ferramenta era possível escrever "receitas" de configuração (linguagem declarativa) que instalava várias máquinas da mesma forma com apenas um comando. Em 2005, tivemos o Puppet escrito em Ruby e em 2009 o Chef também escrito em Ruby. Essas ferramentas deram início a infraestrutura como código, sendo possível criar e compartilhar receitas em repositórios bem semelhante ao Git/Github usufruindo assim da colaboração da comunidade OpenSource.
Essas ferramentas funcionavam em uma arquitetura cliente e servidor. Onde cada cliente possui um processo agente que fica escutando um servidor para instalar e configurar o que for requisitado. Consequentemente era preciso configurar o agente e o servidor, o que poderia ser trabalhoso demais para uma única máquina.

Anos depois tivemos ferramentas agentless como Capistrano e Ansible que são mais simples de configurar para uma única máquina, em relação as outras ferramentas citadas anteriormente. O que torna mais simples é ter apenas o servidor usando conexão ssh como túnel para executar arquivos em máquinas remotas.
Cada ferramenta tem seu propósito, a grosso modo, sendo as agentless mais voltadas para casos de uso mais simples (desenvolvedores) e as baseadas em agent mais voltadas a infraestruturas mais complexas.

Mas será que essas ferramentas só servem para automatizar? Pelo contrário, além de agilizar a criação e configuração, essas ferramentas são essenciais para manter uma infraestrutura atualizada e segura. Também ajudam a destruir e reconstruir rapidamente máquinas que foram atacadas por exemplo. Tentar fazer essas tarefas "na mão", comando a comando torna o processo além de trabalhoso e improdutivo, também muito passível de erro por esquecimento de algum comando, além de difícil replicação.

Surgimento e expansão das Big Techs

Do meio para o final dos anos 2000, temos o surgimento e a expansão de grandes Tech Startups trazendo serviços e produtos que faziam as pessoas ficarem mais tempos conectadas na internet de um jeito nunca visto antes. Muitas tecnologias surgiram e evoluíram para conseguirem apoiar a escala dessas empresas. Na parte 2 do vídeo vamos entender como a evolução dessas tecnologias culminaram no Docker e Kubernetes que temos hoje.

Continua...

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