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Jefferson Matheus
Jefferson Matheus

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Eu sou uma boa pessoa desenvolvedora?

Bem, eu não sei dizer se esse texto é sobre Síndrome do Impostor ou não. Muito do que eu leio, explica a definição e tenta dar alguns conselhos no intuito de ajudar as outras pessoas. Mas as minhas palavras aqui são apenas o reflexo de alguns pensamentos e sentimentos sob a minha perspectiva como uma pessoa programadora. Eu tenho 30 anos e comecei a programar há 8. Eu trabalhei com diversas tecnologias em algumas empresas em times diferentes, aqui no Brasil e também remotamente com times internacionais, que é o meu formato atual de trabalho.

Ao longo da minha carreira, desde o começo, sempre me senti um passo atrás das outras pessoas. Até mesmo hoje, quando tenho a oportunidade de conversar com outra pessoa que desenvolve, existe uma grande chance de eu assumir que a outra pessoa é um nível mais alto que o meu, e daí eu tento falar o quanto menos eu conseguir. É como se eu sentisse vários dedos apontando pra mim julgando minha falta de conhecimento, mesmo que eu saiba que está tudo na minha cabeça, eu não consigo me livrar desse sentimento tão facilmente.

Sei que ninguém sabe tudo, mas sem perceber eu me pego tendo pensamentos como “Droga, eu estou nessa há anos e não sei como usar o Docker ainda”, “Eu deveria saber claramente porque usar o framework JS X no lugar do Y em tal situação”, “Eu sou capaz de falar com confiança sobre o porquê de Orientação a Objetos ser melhor que Programação Funcional e vice versa?”. Depois de todos esses anos programando, eu também me culpo porque:

  • Eu não tenho um vasto conhecimento na tecnologia que estou trabalhando, quando penso que deveria porque “eu sou uma pessoa desenvolvedora experiente”
  • Eu tenho dificuldades de manter conceitos básicos na mente e conversar sobre eles (no momento eu me sinto meio desconfortável de escrever alguns deles aqui)
  • Eu nunca usei testes unitários pra valer (projetos pequenos no GitHub não contam, contam?)
  • Eu nunca usei nenhum padrão de projeto (ou pelo menos não estava ciente de que estava usando)
  • Eu não me sinto confiante o suficiente pra fazer um code review (cada vez que o meu pull request volta com sugestões eu penso “Carai, como que eu não pensei nisso antes? É tão mais simples assim)
  • Eu tenho dificuldades de pensar na arquitetura de um projeto do zero

Depois de ler essa listinha você pode estar pensando “então é só estudar que você melhora nesses pontos”. Mas, como todo dia tem uma tecnologia nova surgindo, mais coisa você tem pra estudar. Pessoalmente, eu consigo começar algo em React, por exemplo, mas acabo perdendo o interesse bem rápido e não consigo mais progredir. Tenho muitos cursos na minha conta no Udemy mas nunca assisti a maioria ou nunca os terminei. O mesmo acontece com os milhares de PDFs com cursos e tutoriais que eu costumava ter e nunca li nenhum.

Hoje em dia eu vejo algumas vagas com o título “Senior Developer”, “Senior Dev Engineer” ou “Tech Lead” e penso comigo mesmo “Depois de 8 anos, eu me sinto Sênior?”, “Eu realmente tenho 8 anos de experiência ou 1 ano repetido por 8 vezes?”, “A entrevista com o RH parece ok, assim como teste de codificação, mas eu passaria na entrevista técnica?” e eu acabo não aplicando pra essas vagas. Fico mais interessado em vagas como “Software Developer”, “Frontend Developer” ou “Fullstack Developer”.

Outra coisa que me incomoda um pouco é: como uma pessoa de 30 anos, eu fico meio assim quando vejo os jovens nos seus 20 e poucos anos tendo discussões calorosas com outras pessoas que também desenvolvem, dando boas sugestões nas Scrum meetings ou criando coisas incríveis como o Dan Abramov que criou o Redux tendo seus 20 e poucos anos (eu acho). Porra, eles parecem tão perfeitos. Sim, eu sei que todos nós somos diferentes e cada um de nós tem experiências diferentes, histórias de vida diferentes e personalidades diferentes, mas pra mim isso é difícil de aceitar, quando não deveria ser. E por favor, não me levem a mal, se eu pudesse eu seria como essas pessoas e sempre que eu posso, tento aprender com elas.

Bom, essas são apenas algumas confissões que embora possam parecer negativas, talvez toda pessoa que desenvolve software sentiu, ou vai sentir, alguma, ou algumas, dessas coisas que mencionei em algum ponto de suas carreiras. Não somos pessoas perfeitas e todo dia há uma nova chance de aprendermos e melhorarmos. Às vezes penso que tudo é mais sobre autoconfiança do que conhecimento técnico, por que a autoconfiança vai te ajudar a trazer mais conhecimento técnico.

Isso é tudo pessoal
Sejam curioses, e não esqueçam de beber água.

Top comments (2)

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Vitor Luiz Rubio

Eu poderia copiar e colar esse seu artigo na minha bio. Me identifiquei completamente. Não tenho lá grandes coisas no meu Github, sempre me considero um passo atrás, ainda não estudei Go/vue/Rust/react/kotlin/elixir e não confio muito no meu código e arquitetura apesar de já ter 36 anos, pelo menos 19 programando.
Acho que a glamourização das moscas brancas de olhos azuis (como o Dan Abramovich que você citou) contribui para nós nos cobrarmos como pessoas de nenhuma outra profissão se cobram.
E você vai fazer o que, estudar e programar 24x7 mesmo qdo chega em casa cansado do trabalho, sacrificando seu lazer a troco de .... quê?
É nisso que eu penso quando piso muito fundo no acelerador, saber que raramente vai compensar financeiramente me faz tirar o pé um pouco, mas tem mais envolvido.
Parabéns pelo artigo e continue melhorando, mas colocando como prioridade família, saúde e diversão.

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jefferson227 profile image
Jefferson Matheus

Nossa, é sempre bom saber que a gente não está sozinho e que tbm existem outras pessoas passando pelo mesmo sofrimento. Pois é, depois que eu escrevi esse artigo e vi alguns comentários isso me fez reavaliar o que de fato me levou a programar: simplesmente achar divertido digitar alguns comandos e vc ver funcionar no computador. Muito dessa essência (pelo menos comigo) se perdeu durante esses anos e acabei sentindo como se tivesse "competindo" com as outras pessoas que sabem mais, sendo que isso acabou sendo péssimo pra minha saúde mental.

Agora estou tentando não me cobrar tanto e trabalhando a minha mente pra absorver os conteúdos aos poucos e internalizar que está tudo bem não saber de tudo.

Obrigado pelas palavras e que a gente consiga superar esses desafios e continuar evoluindo :)