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João H. Capucho
João H. Capucho

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Rotina e sanidade, parte 1

Em primeiro lugar, que fique claro que esse texto é uma exposição de ideias sobre o processo que venho fazendo, me
utilizando de cobaia, para melhorar o que eu acredito ser essencial em minha vida. Logo, esse artigo não tem a
intenção de te convencer de que o que eu faço é a melhor forma de se fazer. Quero trazer apenas opções e razões do que
fiz e que acredito ter melhorado minha vida. Espero que a partir disso você possa fazer suas reflexões e identificar o
que é ou não aplicável ao seu processo. :)

Acontecimentos recentes na minha vida me fizeram ter vontade de escrever sobre algo que vivo há pelo menos dois
anos e meio. Um processo contínuo de transformar hábitos e processos que façam do meu dia-a-dia algo mais
saudável. Esse processo teve início em meados de janeiro de 2020. Escreverei sobre isso em alguns posts, acredito eu,
pois é algo que demandará um pouco de tempo para falar sobre o que fiz e os impactos que tenho percebido.

Para eu conseguir explicar o que mudou, eu preciso explicar do que a minha vida consistia antes desse processo. Se
você está lendo isso, provavelmente sabe que sou desenvolvedor de software. Assim como a maioria das pessoas que vivem
nesse meio, minha vida poderia ser resumida em doses cavalares de café, dormir tarde, acordar o mais tarde possível de
forma que eu ainda conseguisse chegar no escritório antes da Daily
(reunião diária de alinhamento do time, grosseiramente).
Além disso, eu sempre tive o hábito de estudar após o trabalho, pelo menos 45 minutos, durante os dias de
semana. O que acontecia frequentemente era estar muito cansado após o dia de trabalho (que frequentemente envolvia hora
extra) para conseguir fazer isso com qualidade.

No início da minha carreira profissional de software, priorizei muitas vezes as necessidades das empresas que
trabalhei ao invés das minhas, e não posso dizer que isso foi de todo negativo, tive benefícios claros na minha
trajetória graças a isso. Acredito que no início da sua carreira, dependendo das suas ambições e objetivos, diversos
sacrifícios serão necessários. Entretanto, isso não é sustentável no longo prazo, e percebi nesse momento que eu havia
chegado num ponto de inflexão, onde priorizar a minha vida e carreira não era mais opcional e sim uma necessidade (um bom
livro sobre o assunto emprego vs. carreira, é o livro do
Luciano Santos, "Seja egoísta com sua carreira").

O curso Learning how to Learn abriu a minha mente sobre como o meu
processo de aprendizado poderia ser melhorado, e cheguei a conclusão que eu precisava usar o meu melhor momento (pela manhã)
para fazer tudo que fosse voltado para o meu crescimento pessoal e de carreira. E foi aí que veio o pivô da mudança, onde
num belo dia em janeiro, olhando o dia frio lá fora, tomei a difícil decisão de
passar a acordar cedo (6am). Usaria esse horário para estudar por uma hora, e ter a minha noite livre. Morando no Brasil
talvez 6am nem seja tão cedo assim. Porém, morando na Suécia, o sol só aparece entre 8 e 9 da manhã em janeiro e o clima
frio faz a cama ser muito mais convidativa, o que fez a decisão ser bem mais difícil para ser sincero.

E qual foi o maior impacto dessa decisão? Percebi, com o tempo, que o nível de compreensão das coisas que eu fazia nesse
período eram muito maiores e que eu conseguia fazer conexões mais sólidas do que eu aprendia. Porém, honestamente, esse
não foi nem de longe o melhor ganho. O melhor ganho eu ainda estava para entender.

Ao longo das semanas que se passavam, cada vez menos o meu primeiro pensamento do dia era sobre trabalho. Não acordava
pensando no que eu tinha que entregar, com quem eu precisava marcar reunião, quem eu precisava cobrar ou o que eu estava
esquecendo. Como eu não estava correndo para me arrumar para trabalhar, tampouco eu me via pensando sobre trabalho.
O meu foco passou a ser totalmente direcionado na minha vida, nos meus afazeres (nesse meio tempo passei a usar metodologias para organizar
a minha vida que falarei no futuro, tentei algumas, como GTD,
bullet journal, onde eu falhei diversas vezes e voltei mais vezes ainda para elas).

Que tranquilidade foi passar a viver assim. Sou muito grato ao meu eu do passado que tomou essa decisão. Com a pandemia
eu passei a trabalhar de casa, e por começar às 9 am, eu passei a ter aproximadamente 3 horas pela manhã para realizar as
minhas coisas. Foi aí que o trabalho remoto ganhou meu coração.

Conforme fui entendendo o tempo que tinha disponível para mim, comecei a acrescentar coisas nessas horas que faziam o meu
dia melhor. Por exemplo, nunca fui de tomar café da manhã, sempre tive que sair correndo e não consigo sentir fome logo
ao acordar. Ao passar a estudar e ficar mais de uma hora entretido estudando, meu apetite aparecia e passei a tomar café
da manhã, o que fez com o que o resto da minha manhã fosse muito mais produtiva.

Foi em janeiro também que voltei a malhar, deixava para malhar a noite, pois era quando eu não precisava mais de um
raciocínio fino e poderia usar para descompressão do trabalho. Infelizmente, com o advento da pandemia, a
academia teve um fim forçado que só teve retorno após as 3 doses da vacina (final de 2021), e tenho conseguido me manter
consistente (+ de 4 vezes por semana) até então. Acredito fortemente que esse início e todas as mudanças inseridas durante
o processo, foi um dos fatores fundamentais para eu conseguir viver o lockdown sem entrar em
colapso, dado que eu passei mais de um ano trancafiado num apartamento de 30m2.

As mudanças que enxergamos como positivas tendem a ter um efeito cascata. Quando você passa a enxergar os efeitos positivos de algo
que fez, começa a procurar quais são as outras coisas que talvez façam sentido mudar que podem trazer-lhe algum
benefício. Um subproduto da decisão de acordar cedo, foi construir uma rotina que fizesse com que eu dormisse bem, para
conseguir levantar no horário.

Decidi que as 10pm seria meu horário para dormir, e que a partir das 9pm eu não mexeria mais em telas. Uma das coisas
mais úteis que fizemos foi comprar lâmpadas que você pode selecionar para ficar amarela, e durante as noites usávamos
esse modo para estimular o nosso sono. O que fazer entre as 9pm e as 10pm, me perguntava. Bom, um hábito que havia
ficado de lado desde o advento da Netflix na minha vida virou a melhor opção: ler.

Passei então a trocar a tela da televisão pelos meus livros. Sempre foquei muito tempo nos meus estudos em tecnologia, porém
com esse novo espaço, passei a dedicar parte do meu tempo com coisas que eu enxergava como essenciais para o meu futuro:
a minha saúde emocional, a gestão da minha vida e das atividades que preciso fazer, minha carreira e eventuais livros
de literatura. Além disso, nesse período também descobri que a cafeína tem um efeito estimulante de cerca de oito horas no seu corpo, o que
me fez tomar com muito prazer o meu último cafezinho às 14h.

Nas próximas vezes que eu me aventurar por essas terras quero falar mais a fundo sobre tudo que disse acima e sobre
outras coisas que acrescentei e removi da minha vida durante esse período. Acredito que o mais importante que aprendi
nesse processo é que uma rotina bem estabelecida me trouxe muita paz, mesmo em meio a momentos bastante delicados. Para muita gente ter uma vida assim pode parecer entediante, porém, eu descobri
uma relação muito saudável com o famigerado “tédio da rotina”. Ter um direcionamento claro e palpável no meu dia-a-dia
faz que eu consiga encontrar o meu norte quando a bússola começa a falhar. Evito questionamentos corriqueiros, tenho respostas simples
e tangíveis para a maioria dos momentos no meu dia.

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João H. Capucho

Espero que consiga, meu caro. Boa sorte!