Olá, pessoal! Espero encontrar todos bem. Hoje você aprenderá que tipo de programador você é, qual é a história que os códigos que você escreve contam sobre você, e em qual gênero literário você seria encaixado se estivesse escrevendo um livro.
Escrever códigos de computadores é como escrever um livro, algumas estórias nos prendem, nos fazem querer saber mais sobre aquilo que está sendo contato, outras estórias nos repelem, e o único motivo para seguirmos lendo é a obrigação de saber o que acontece no final do livro, digo, final do código. Assim como escritores famosos, nós programadores temos cada um o seu próprio estilo, os seus próprios vícios, e marcamos nossas obras com nossa impressão digital ainda que não percebamos, e ainda que sigamos algum style guide.
As impressões digitais que deixamos para trás ao escrever um código de computador contam muito sobre nós mesmos, e mais ainda, a depender do nosso estilo, diria que nos permitem ser encaixados como produtores literários de livros que vão desde gêneros de romance, até gêneros de terror....
Há algum tempo, eu tive contato com um vídeo sobre React e ficção (link nas referências), no qual a palestrante traça um paralelo entre a escrita criativa de estórias de ficção, e a escrita de códigos de computadores. Inspirado por esse conteúdo, resolvi escrever esse artigo, e nele trato de forma ilusória as minhas próprias percepções sobre os códigos que leio, comparando-os com os sentimentos que se buscam despertar os diferentes gêneros literários.
**O autor adverte, qualquer semelhança com eventos reais, pessoas vivas ou mortas é mera coincidência 😁
Feito o preâmbulo, você está ansioso para saber o que o seu código conta sobre você? E qual é o gênero literário que você seria encaixado se o seu código fosse um livro?
Os gêneros literários dos programadores
Comecemos por definir alguns gêneros e algumas características nos códigos normalmente atribuíveis àqueles.
Terror
Todos nós em algum momento da vida já tivemos que lidar com algum código que nos assustou quando estávamos lendo, e que nos rendeu alguns pesadelos a noite. De fato, existem algumas coisas que são o terror dos programadores, confere só essa pequena lista e me diga se isso não te dá um frio na espinha:
- Arquivos com o número de linhas intermináveis;
- Linhas de código que poderiam dar a volta no planeta Terra;
- O mesmo nome de variável sendo usada para várias coisas diferentes;
- Todos os arquivos do projeto na pasta raiz do repositório;
- Funções que passam como parâmetro a chamada de outras funções, que passam como parâmetros a chamada de outras funções, que passam como parâmetro a chamada de outras funções, que passam como parâmetro a chamada de outras funções.... Só para deixar claro, essa crítica não se aplica em linguagens funcionais 😁.
E por fim, e mais assustador, alguns programadores adoram esquartejar suas variáveis, muitas vezes, tudo que sobra para trás para contar história é um X marcando o local onde o ataque aconteceu.
lst.forEach(x => x.SOCORRO);
Suspense
Alguns códigos, quando precisamos debugá-los, nos dão a mesma experiência de ler um bom livro de suspense.
Os códigos que estou classificando aqui como suspense são aqueles que todas as vezes que executamos, não sabemos o que esperar, às vezes funciona, às vezes gera um erro, às vezes retorna um resultado, às vezes outro.
Isso costuma acontecer quando uma função faz várias coisas e possui vários efeitos colaterais, além de não deixar claro o que a mesma pretendia fazer.
function funcao1(objeto) {
if ("o dia está ensolarado")
console.log("bora curtir uma praia");
if ("o vento está para o norte")
objeto.propriedade = 1;
if ("está chovendo")
throw new Exception("O Dev pira");
}
Ficção
Ficção definitivamente é um gênero muito popular, pelo menos quando se trata de livros, quem nunca viu uma obra de Isaac Asimov? Quando falamos de algoritmos de computadores, esse gênero não é tão popular assim, é raro, mas acontece com frequência 😁.
Obras de ficção costumam brincar com a realidade, e desafiam o nosso conhecimento ou extrapolam teorias, nos algoritmos de computadores isso costuma ser visto quando o autor escreve uma função cujo objetivo do que se busca e do que se faz só pode ser ficcional.
function somarNumeros(int left, int right) {
return left - right;
}
Romance
O amor é lindo, e mais lindo que o amor é um código escrito com paixão. Programadores experientes conseguem ver através do código e dizer com quanto carinho o código foi escrito pelo autor.
Poucas coisas são tão satisfatórias quanto trabalhar com um código que foi escrito com esmero, é possível sentir quando o programador se esforçou em tornar o seu trabalho entendível e lapidado. Ainda que não seja o melhor código possível, e não se trata disso! Um programador que escreve romances toma o cuidado de deixar as coisas onde se espera que elas estejam, e conduzem o leitor de seus códigos em uma valsa de funções e variáveis imitando o mais belo dos sonetos.
Escritores deste gênero tomam o cuidado de indentar seus códigos com um padrão bem estabelecido, ainda que o leitor prefira outras formatações, é notável que o autor se esforçou para manter tudo com a mesma estética, e não jogou simplesmente os elementos na tela como quem bate com a cabeça no teclado.
As revelações que os códigos fazem sobre seus autores
Tendo visto alguns gêneros literários usados para falar de características gerais dos desenvolvedores, daremos sequência observando algumas características mais pontuais, itens que os códigos revelam sobre os autores.
Programador Ultrawide Screen
Alguns programadores usam todo o espaço disponível de seus monitores para escrever seus códigos, pode ser muito fácil descobrir o tamanho do monitor de alguns desenvolvedores, basta contar quantas vezes você precisa rolar o código horizontalmente para descobrir se o desenvolvedor que o fez possui um monitor Ultrawide Screen.
Programador Shakespeariano
Esses programadores normalmente escrevem códigos que se encaixam no gênero de romance, suas obras são em geral muito belas, o único problema é que poucas pessoas são capazes de entendê-las.
Programadores que amam e odeiam espaço em branco
Alguns programadores amam usar a tecla de espaço, adicionam vários espaços entre seus códigos, seja verticalmente deixando um vasto espaço vazio entre funções, ou horizontalmente iniciando uma linha na metade da tela.
Por outro lado, há aqueles que a detestam, não incluem espaços entre elementos de uma linha, e muito menos entre blocos de funções, tudo se torna uma grande sequência de caracteres concatenados.
Conclusão
Ler e interpretar códigos compõem a maior parte do trabalho de um desenvolvedor, seja para integrar uma nova feature à um código já existente, corrigir um bug, ou refatorar algum trecho de código. Estamos sempre lendo códigos e tentando entender o que raios ele está fazendo, seja esse escrito por alguém da nossa equipe ou por nós mesmos há alguns meses. Por esse motivo, escrever de forma consistente e aplicar corretamente os padrões de desenvolvimento são tão importantes, isso nos ajuda a comunicar a intenção do código para as outras pessoas, e para nós mesmos no futuro.
O objetivo deste texto foi chamar a atenção de forma divertida para alguns anti-patterns e vícios negativos que temos no desenvolvimento de código, de forma que quando estejamos escrevendo algum código, nos perguntemos: que tipo de estória eu estou contando? Quem está lendo meu código se sentirá lendo um romance ou uma estória de terror?
É sempre mais agradável lidar com código claros e bem escritos, ainda que o código não seja o melhor, é possível notar quando o desenvolvedor se importava com o que estava fazendo, e queria entregar o melhor que podia naquele momento.
Dicas do autor
Quer deixar de escrever estórias de terror e começar a escrever verdadeiros romances? Que tal começar aplicando algumas estratégias de clean code básicas?
Preparei uma pequena lista de tópicos pensando no que vimos dentro dos gêneros literários deste artigo:
- Nem todos os desenvolvedores possuem um super monitor, controle o comprimento das linhas do seu código, 80 caracteres é excelente, 120 é aceitável;
- Se o arquivo está muito grande, separe o código em arquivos menores de acordo com as responsabilidades do código;
- Separou o código em vários arquivos? Ótimo, agora os organize em pastas no seu projeto, não deixe tudo na pasta raiz;
- Use nomes reveladores nas variáveis e funções, abreviaturas e usar apenas uma letra como variável dificulta muito a manutenção do código;
- Certifique-se de que a função escrita faz o que o nome dela expressa;
- Use o espaço vertical e horizontal, mas também não exagere, os elementos não precisam estar unidos, mas também não precisam estar em quarentena um longe do outro;
- Siga apenas uma indentação, mesmo que não seja a melhor de todas ela demonstra consistência, poucas coisas mostram mais desleixo do que cada parte de um código escrito e indentado de formas completamente diferentes.
Lembre-se: escritores de livros não publicam a primeira versão de seus manuscritos, eles leem e releem suas obras e as lapidam, do mesmo jeito, você não deveria publicar a primeira versão do seu código, uma revisão ainda que rápida não fará mal a ninguém.
Agora, me conta: que tipo de gênero literário você tem escrito atualmente?
Referências
React e ficção: https://www.youtube.com/watch?v=kqh4lz2Lkzs
Livro: Código limpo: habilidades práticas do Agile software
Top comments (2)
Simplesmente genial, nunca tinha pensado dessa forma, o engraçado e lembrar de alguns códigos a cada paragrafo que descreve um gênero kkkkkk.
"Programador Shakespeariano" me fez rir muito. hahahhaa Muito bom!