Quando estamos falando de desenvolvimento web, um dos maiores problemas que enfrentamos é a segurança. Ainda mais quando estamos falando de desenvolvimento Node.js com pacotes distribuídos através do NPM.
Uma das maiores fontes de ataques à sistemas empresariais vem através de pacotes externos que são instalados sem o devido cuidado. Isso já foi testado algumas vezes e ainda continua sendo um problema.
O problema não é nem baixar o pacote, mas sim não ter como ter certeza de que aquele pacote veio do lugar que você espera ou que ele foi publicado por quem você espera. Mas isso está prestes a mudar.
NPM Package Provenance
Recentemente a NPM anunciou uma novidade, o package provenance. Que vai ser a forma que você pode identificar que um pacote foi feito por quem diz que o criou, e também foi publicado de uma fonte confiável.
O objetivo do provenance não é só assinar o código, mas sim criar um link do pacote com o local de onde ele veio e qual foi o artefato original que gerou aquele pacote. Uma das formas seria ancorar o pacote a quem o criou através de uma chave privada, dessa forma quem quer que tenha feito o pacote pode assinar esse pacote com a chave privada e distribuir uma chave pública para verificação.
No entanto, essa abordagem é um problema, porque o ponto de falha é justamente a chave. Se ela vazar, então toda a segurança vai por água abaixo. Por isso eles pensaram em uma forma bastante inteligente de validar a propriedade do pacote: ancorar a identidade ao servidor de onde ele saiu.
Isso cria um ponto de segurança muito mais forte, já que você precisa replicar uma estrutura inteira para poder replicar a assinatura do pacote, o que não é tão trivial quanto roubar uma chave.
Qual é o segredo?
Para isso, eles estão usando algumas soluções da Sigstore, especialmente uma que aceita tokens no formato OpenID Connect para criar certificados que tem uma vida bastante curta e são usados somente para assinar as requisições da provenance.
E essa é a grande sacada, porque para cada publicação do pacote, é gerado um par de chaves que é usado para assinar o certificado, essas chaves são jogadas fora e substituídas por um certificado de validade. Ninguém mais pode assinar o código, mas todo mundo que tiver o certificado público pode validar que ela foi gerada por uma fonte confiável, ou seja, ninguém tem uma chave.
Imagem representando o fluxo dessas operações (Fonte: NPM)
A segunda parte desse processo é a verificação, que é feita em um serviço chamado Rekor, que é um log de transações públicas, basicamente todos os provenances vão parar lá e são totalmente públicos para todos verem. Então você pode baixar o log que contém todo o ambiente do CI/CD assinado e verificar se é verdadeiro com o comando:
npm audit signatures
A importancia do CI/CD
Para que tudo isso funcione, é preciso que os metadados do CI/CD sejam confiáveis, até porque a informação que estamos tentando assinar é justamente o local de onde o pacote foi construído.
Essas informações que eu estou falando são, por exemplo, dados únicos do container que o processo de CI foi iniciado, como hostnames, variáveis de ambiente e etc. No caso do Github Actions, esse é o documento de provenance que é assinado:
_type: https://in-toto.io/Statement/v0.1
subject:
- name: pkg:npm/sigstore@1.2.0
digest:
sha512: 16bf7e5b59e40522190a425047b8c39ffcc8d145cdb15a69fbb9834240a764e2311bda7ac8d5c1c7dc67b47b1f532607139e570e4915577fab61bae4cc079eb0
predicateType: https://slsa.dev/provenance/v0.2
predicate:
buildType: https://github.com/npm/cli/gha/v2
builder:
id: https://github.com/actions/runner
invocation:
configSource:
uri: git+https://github.com/sigstore/sigstore-js@refs/heads/main
digest:
sha1: 5b8c0801d1f5d105351a403f58c38269de93f680
entryPoint: ".github/workflows/release.yml"
environment:
GITHUB_EVENT_NAME: push
GITHUB_REF: refs/heads/main
GITHUB_REPOSITORY: sigstore/sigstore-js
GITHUB_REPOSITORY_ID: '495574555'
GITHUB_REPOSITORY_OWNER_ID: '71096353'
GITHUB_RUN_ATTEMPT: '1'
GITHUB_RUN_ID: '4503589496'
GITHUB_SHA: 5b8c0801d1f5d105351a403f58c38269de93f680
GITHUB_WORKFLOW_REF: sigstore/sigstore-js/.github/workflows/release.yml@refs/heads/main
GITHUB_WORKFLOW_SHA: 5b8c0801d1f5d105351a403f58c38269de93f680
materials:
- uri: git+https://github.com/sigstore/sigstore-js@refs/heads/main
digest:
sha1: 5b8c0801d1f5d105351a403f58c38269de93f680
Para gerar o seu próprio arquivo de provenance, o NPM criou uma flag chamada --provenance
, então basta rodar npm publish --provenance
que o seu pacote vai ser assinado.
Dá uma olhada na documentação também que existe bastante coisa interessante lá
Mas aí temos o questionamento: Por que obter dados do CI? Simplesmente porque não é simples alterar esses dados. Principalmente porque, mesmo se você tentar modificar o processo da máquina com um child_process
sendo injetado, ainda sim, servidores conhecidos como os do GitHub vão ter informações que você não pode tirar, como os endereços de IP, por exemplo, dessa forma o NPM pode fazer um cross-check dos dados no provenance enviado, versus os dados que o próprio GitHub devolve.
Por causa disso que não podemos gerar provenances localmente, ou seja, você não vai conseguir usar o
npm publish --provenance
na sua máquina local porque, diferente do GitHub, a sua máquina não é uma fonte confiável de dados.
O que acontece localmente?
A Socket publicou um artigo bastante interessante sobre como o processo de instalação ou publicação de um pacote funciona. Vou tentar resumir ele aqui.
Quando você publica um pacote com provenance:
- O pacote é compactado em um
.tar
- O NPM verifica suas credenciais e o token de acesso
- O pacote é enviado para seu registro normalmente
- O registro vai buscar os metadados a partir da conexão (não do pacote)
- O NPM obtém um certificado para assinar seu pacote que é populado com as informações que o GitHub vai providenciar direto da infraestrutura deles
- O NPM usa esse certificado para criar uma assinatura única do tarball
- Essa assinatura é registrada no Rekor
- O tarball é salvo no registro
- O NPM inclui todos os metadados e a localização no Rekor dentro do pacote em
https://registry.npmjs.org/$PACKAGE/$VERSION#dist
Quando você instala um pacote que tem um provenance
- O NPM obtém os metadados do pacote
- Baixa a assinatura do pacote (o checksum)
- Baixa as informações de registro do provenance do Rekor
- Baixa o pacote
- Tenta bater o checksum com o checksum baixado
- Tenta bater os metadados do rekor com os dados previamente baixados
Um dos pacotes que você pode verificar isso é justamente o da própria Socket, bastando acessar o link https://registry.npmjs.org/-/npm/v1/attestations/@socketsecurity%2Fcli@0.5.1
Lá, você consegue entrar no documento até encontrar attestations[predicateType ===
https://slsa.dev/provenance/v0.2
].bundle.verificationMaterial.tlogEntries[0].logIndex
, que é um número de log que você pode verificar no Rekor.
Lá você pode descer até a seção Data e ver que todos os metadados relacionados ao CI estão ali:
Conclusão
O processo de provenance é bastante interessante por si só, e é uma excelente forma de proteger a cadeia de pacotes que é essencial para o desenvolvimento moderno, mas também é uma das forma mais fáceis de alguém ser hackeado.
Atualmente, só o GitHub Actions possui a verificação para ter um provenance, mas, segundo o NPM, outros CIs estão sendo adicionados.
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