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Francisco Zanfranceschi
Francisco Zanfranceschi

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[Sobre Mim] - Minha Jornada até Arquitetura de Soluções

Esse post foi publicado originalmente em 2019-01-23. Atualmente, trabalho como especialista de engenharia numa fintech. Não tenho o chapéu de arquitetura, mas ainda exerço a disciplina.


Vou contar para você o começo da minha jornada até me tornar um arquiteto de soluções (software, sistemas, chame como quiser).

Sempre fui desenvolvedor. Quase sempre, na verdade :)


[ Entra aqui aquela musiquinha de harpa e efeito de voltar no tempo ]

Comecei trabalhando em um estúdio de áudio (aqueles com aquelas mesas de som, gravadores que ninguém tem em casa, Pro Tools, etc.). Mas eu praticamente só enrolava cabos, montava e desmontava baterias, fazia a microfonação. Meu auge era quando podia sentar em um Mac e brincar no Pro Tools (acho que fiz umas duas vezes isso). Me mandaram embora. Eu gostava é de tocar! Tinha uma banda, tocava bateria, queria ser famoso, ficar rico e curtir a vida. Eu era uma criança, mesmo.

O tempo passou e cismei que queria morar fora, conhecer o mundo; desde pequeno queria conhecer a Europa. Como meus pais não tinham grana, aqueles programas de intercâmbio eram inviáveis.

Meu pai, quando se separou da minha mãe, vendeu uma casinha que tinha construído em Vargem Grande Paulista, SP. Dividiu o valor da casa em três e deu um terço para mim, um terço para meu irmão e um terço para minha mãe. Minha parte ficou em torno de nove mil reais. Comprei uma passagem para Londres, paguei uma escola, e fui. Pastei. Comi o pão que o diabo amassou. Mas cresci, “virei gente” como meu pai dizia que tinha que ser. Trabalhei lavando chão, lavando louças, garçom, bartender e até performance na rua e metrô com berimbau fiz. Consegui estudar também; melhor coisa que fiz lá — tenho um inglês bom também por causa disso.

Voltei para o Brasil depois de um ano. Me arrumaram um emprego de tradutor de manuais técnicos (aqueles que ninguém lê) em uma importadora e distribuidora de instrumentos musicais e equipamentos de áudio. Nunca tinha recebido um salário com mais de 3 dígitos antes. No começo, achei que tivesse encontrado o emprego dos meus sonhos com “todo aquele dinheiro”. Eu trabalhava sentado, tinha uma mesa só minha e um computador. Acho que o deslumbre durou umas três semanas. Oh!, trabalho chato dos infernos! Se ninguém gosta de ler manuais, imagina ler e escrevê-los dia inteiro?! Mas esse trabalho foi fundamental para minha jornada — tenho que reconhecer isso e agradecer.

Depois que peguei o jeito da tradução, conseguia acabar meu trabalho muito rapidamente e ficava com muito tempo livre. Eu simplesmente — não me lembro o motivo exatamente — cismei de instalar o Linux na máquina em que trabalhava (acho que era alguma coisa que transformava PDFs em TXT para facilitar alguma automação louca que fiz para minhas traduções) e instalei logo um Red Hat. Ah, como eu gostei de “sofrer” com aquilo! Instalava treco, arrebentava com as dependências, não sabia configurar nada! Mas eu adorava! Em casa, fui mais light e instalei o Suse. Ficava deslumbrado com aquele camaleão! Me achava o tal mexendo no Linux. Afinal, só hackers mexiam com Linux, não é mesmo?!

E quanto mais eu gostava do Linux, mais odiava traduzir os manuais.

Um dia fui jogar futebol com o pessoal da firma. Quebrei um osso minúsculo da mão direita (acho que o escafóide e sou destro) e tive que ficar três meses com braço inteiramente engessado trabalhando de casa com as traduções. Descobri um software que transcrevia voz para texto da IBM (Via Voice, comprado no Mercado Livre; R$ 11, nunca esqueço) para poder trabalhar. Funcionava mal demais. Mas em casa, eu estava mais feliz, pois poderia mexer no Linux.

Não contei direito, mas desde novo, sempre toquei. Comecei com violão e guitarra, mas depois mudei para a bateria. Vez ou outra, arrumava umas bandas.

Ainda nessa época de home office forçado, coincidiu da banda na qual tocava precisar de um site. Nunca tinha feito um site, nem sabia como isso era feito direito, mas fui atrás e descobri que dava para fazer alguma coisa (Geocites, HPG, alguém não tão jovem lembra?).

Se eu fiquei alucinado com o Linux, você não pode imaginar como fiquei quando descobri o “include” do ASP. Simplesmente criei um menu em HTML uma vez, “dava include” em todas as páginas e o MESMO MENU aparecia em todas elas! Era impressionante! Fiquei em extâse!

Bom, não dá para contar a minha trajetória toda aqui. Mas esse episódio do “include” foi um marco na minha vida. Me fez buscar trabalhar na área de TI.


Apertando o fast forward da minha vida, lá estava eu trabalhando como desenvolvedor. Dificilmente, eu sossego o facho e já estava indignado por ser “apenas um desenvolvedor”! É, eu era um idiota que já teve esse preconceito de achar que quem é desenvolvedor o resto da vida, é porque não cresceu na vida… Trabalhava em uma empresa que também achava que desenvolvedor bom tinha que ser “promovido” à analista. Trabalhei como analista por um bom tempo, mas qualquer deslize lá estava eu metendo a mão no código — era mais forte que eu! Tenho que confessar que aprendi muito como analista, principalmente porque tive que fazer muita gestão de projetos, contato com clientes, levantamento de requisitos, coisas de analistas de sistemas.

Voltando a minha falta de sossego: eu precisava virar gerente porque queria crescer na vida. Afinal, né? Desenvolvedor o resto da vida não dá, né?

Me deram um projeto para fazer a gestão com o chapéu de gerente. Ah! Cheguei no ápice da minha vida profissional! O que mais eu poderia querer?! Diretor era meu próximo passo!

Foi uma das fases mais difíceis e tristes profissionalmente da minha vida. Eu não tinha jeito para ser gerente, eu estava detestando ser gerente; perdi meu chão profissional. Essa empresa em que trabalhei foi muito legal comigo por ter me dado essa chance e voto de confiança e, principalmente, por ter me aceitado depois de não querer mais fazer gestão. Voltei a fazer o que fazia antes lá, mas inconformado de não saber o que queria da vida. Era TI, mas não era desenvolvedor, não era gerente, não era analista… O que eu queria fazer? (retórica proposital, me desculpe).


Demorei alguns anos trabalhando em TI para descobrir que o que faço de melhor é arquitetar as coisas, desenhar, criar soluções. Adorava fazer desenhos, criar soluções, fazer testes de conceito na minha época de analista/desenvolvedor. Não sou um desenvolvedor ótimo, sou apenas um desenvolvedor mediano, mas me encontro plenamente como arquiteto. Fico plenamente satisfeito profissionalmente trabalhando com arquitetura de soluções. Fico muito orgulhoso de ter encontrado algo que amo fazer de verdade — tenho noção da dificuldade que é trabalhar com o que se ama ou até mesmo descobrir o que te faz feliz profissionalmente. Não é fácil.

Se você quer se tornar um arquiteto, recomendo uma reflexão séria e profunda dos motivos. Eu tive que sofrer um pouco por caminhos que não eram para mim por causa da minha ignorância e preocupação que tive com status e dinheiro. É normal a gente sofrer para conseguir algumas coisas que queremos muito. Mas existe uma diferença entre sofrer e conseguir vislumbrar a compensação e sofrer simplesmente porque você entrou em uma furada; algo que não é a sua praia, sem afinidade com sua essência.

(obs.: hoje eu pago um pau para devs :)

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