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Plínio Balduino
Plínio Balduino

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[pt-BR] Como aprendi (e continuo aprendendo) Inglês

Este texto foi publicado originalmente em 2017 no meu antigo site no Medium. Tenho uma vaga lembrança dele ter sido publicado em outro lugar antes disso, mas o importante aqui é de que se trata de um texto antigo e a evolução não parou de lá para cá.

Antes de mais nada, é válido deixar claro que estou compartilhando aqui minha experiência pessoal. O que funcionou comigo pode não funcionar com você, assim como minha realidade e minhas experiências podem parecer totalmente estranhas para você. Filtre o que você achar importante e relevante, ignore o resto e segue a vida.

Assim como emagrecer, acordar cedo ou começar a fazer exercícios, aprender Inglês é algo que, para a maioria das pessoas, acaba sempre ficando em segundo ou terceiro plano.

No meu caso não foi nada diferente. Desde muito novo eu tive contato com materiais em Inglês, mas sempre tive para mim que eu sabia a linguagem. Eu estava no numeroso grupo que coloca “Inglês Intermediário” no currículo.

Aos vinte eu comecei um curso numa escola que prometia ‘Inglês em 100 horas’. O método deles, ao menos para mim, funcionou muito bem.

Era uma escola onde os professores não conversavam em Português com os alunos. Mesmo com todo o cuidado e toda a didática, era uma situação que te forçava a participar, entender e falar em Inglês. Infelizmente, se você é do tipo tímido ou introvertido, são grandes as chances de evitar interagir num curso desses. Nesse caso eu recomendo outra metodologia ou tentar lutar contra o próprio bloqueio. Não tenho a resposta.

No meu caso, que era tímido e introvertido, ajudou demais ter feito o curso com um amigo que não parava de falar. Eu me sentia à vontade para conversar com ele em Inglês e a coisa fluiu bem.

Por trabalhar com TI, as principais fontes de informação sempre estiveram em Inglês, o que me deixou habituado a ler, mas não a escrever ou conversar. Livros técnicos traduzidos costumam ser péssimos. Os melhores conseguem ser apenas horríveis.

O fato foi que, ao menos por um tempo, esse curso conseguiu melhorar muito a minha conversação e minha compreensão de texto, mas eu ainda não era fluente no idioma.

Eis que, após três meses de curso, sofri um acidente voltando para casa e deixei os estudos de lado por anos.

Como eu disse no começo do texto, aprender um idioma é como emagrecer ou começar fazer exercícios. Para a maioria das pessoas esse hábito só vem depois que algo ruim acontece. Um infarto ou, no meu caso, uma vaga para ganhar quatro vezes mais.

Eu trabalhava numa empresa pequena, realmente pequena, onde havia mais um programador além de mim. O faturamento era pouco, o salário era baixo e minha ambição era nula.

Então me aparece essa oportunidade para trabalhar em uma multinacional suíça e ganhar quatro vezes mais do que eu ganhava:

"Você sabe X?"
- Sei
"E Y?"
- Sei
"E o Inglês?"
- Precisa ser fluente?
"Não existe outro. Ou você sabe, ou não sabe."

E a pré-entrevista acabou ali mesmo.

Fiquei olhando para o telefone. Minha incipiente carreira tinha acabado de sofrer um infarto.

Eu tinha duas opções: reclamar de como a vida era injusta e de como empresas pediam Inglês avançado ou fluente sem a menor necessidade, ou eu poderia aproveitar o tranco para me mexer e sair do marasmo. Como já me disseram, "até um pé na bunda te empurra para frente".

Pensando bem, essa oportunidade já tinha sido perdida mesmo. Uma próxima eu não deixaria escapar. Se for para cair, que seja para cima.

Saí em busca de uma escola de idiomas para voltar a estudar. As melhores estavam bem além do meu orçamento. Sobravam poucas opções. Todas elas franquias de bairro com reputação bem ruim.

Fiz uma entrevista com a coordenadora do curso. Eram sete módulos de seis meses cada, se não me falha a memória, e entrei no quarto. Bom, pelo menos eu estaria convivendo com pessoas que já estavam estudando continuamente há um ano e meio.

No primeiro dia de aula chamei a professora de canto e expliquei o que tinha acontecido. Pedi a ela que, se possível, falasse comigo apenas em Inglês e eu que me virasse para entender e responder. Ela ficou surpresa e feliz com o pedido e já me respondeu em Inglês mesmo, concordando.

Para minha surpresa, os demais alunos pareciam estar ali apenas para cumprir horário. Conversavam entre si em Português e tinham dificuldades de leitura. Me perguntei até que ponto o curso era realmente ruim ou se eram os alunos que nem ao menos se esforçavam.

Um amigo me indicou podcasts para ouvir no ônibus, em Inglês. English as a Second Language, por exemplo, começava com um texto sendo lido bem devagar, em seguida havia uma explicação sobre as palavras chaves ou termos novos e então, o texto ou o diálogo ocorria em velocidade normal.

Ao mesmo tempo, no curso, a professora só conversava comigo em Inglês e, logo, alguns alunos resolveram entrar na brincadeira.

Nesse meio tempo, algo estranho começou a acontecer: eu saia do curso pensando em Inglês e ia assim até chegar em casa. Para mim era algo totalmente estranho pensar em Inglês, sem precisar antes formular a ideia em Português e, só então, traduzir. Era como se tivesse descoberto uma chavinha no cérebro que trocava o idioma. Uma tecla SAP.

Esse amigo que recomendou os podcasts, que inclusive foi o mesmo que me barrou logo na pré-entrevista, comentou que uma forma de falar melhor era ficar bêbado.

“Comigo funcionou”, ele disse.

Eu mal conseguia falar corretamente quando estava sóbrio e também não bebia. Não fazia o menor sentido.

Meses após ter perdido aquela oportunidade, surgiu outra na mesma empresa. O salário seria menor, mas ainda assim era muito mais do que eu recebia na época. Eu era Roberto Baggio novamente na marca do pênalti.

“Você sabe X?”
- Sei
“E Y?”
- Sei
“E o Inglês?”
- Fluente
“Tem certeza? Encara uma entrevista toda em Inglês?”
- Opa. Vamos lá.

Vamos ser honestos: eu não era fluente. Acho bem pouco provável que alguém passe do ponto do "Inglês Intermediário", do "sei mais ou menos" para a fluência em pouco mais de seis meses. Mas o raio não cairia três vezes no mesmo lugar e eu estava me preparando justamente para uma situação assim. Tinha que dar certo. Se eu não acreditasse em mim, ninguém mais acreditaria.

Entenda que o objetivo desse texto não é ser motivacional nem vender uma solução milagrosa para pessoas desesperadas. Estou narrando de forma desnecessariamente honesta e sincera o que eu passei e como eu reagi para que você perceba que tudo é uma questão de tirar a bunda da cadeira e de mudar de postura. Seja por um infarto, seja por um tombo na carreira.

Fiz um pequeno teste prático, recebi algum feedback do avaliador e fui chamado para a entrevista.

Eis que eu estava na recepção da empresa, tremendo, pálido, mal conseguindo falar Português. Havia uma cultura de sigilo na empresa em que mesmo o principal negócio dela não tinha ficado claro para mim até então.

Simplesmente não dava para ficar tranquilo. Tinha tudo para dar errado. O estádio em silêncio, a bola na marca do pênalti, o goleiro olhando para mim como se soubesse que eu ia errar.

Entro na sala de reunião. Um gerente suíço que não falava Português e um engenheiro que falava Inglês tão depressa quanto um americano que tomou muito café.

Começam a me contar sobre a empresa, sobre o projeto e sobre o que era esperado que eu fizesse lá. Em Inglês. Minha cabeça funcionando a cento e dez por cento com medo de perder uma só palavra e botar tudo a perder.

Então preciso contar de forma resumida o que eu tinha feito até então, em que projetos já tinha trabalhado e qual era a minha experiência.

Não teve nada de mágico: gaguejei, tropecei, troquei palavras. Minha pronúncia foi horrível e, em vários momentos, eu precisei repetir a frase de uma forma diferente para que todos entendessem.

O gerente então fez uma pergunta sobre part numbers que fugiu totalmente do escopo da conversa. Olhei em volta, perdido. Vi um quadro branco.

"Can I use the whiteboard?"
- Sure, please._

Para minha sorte, eu já havia trabalhado com um sistema que controlava listas de partes de produtos industrializados. É, como o nome diz, uma lista contendo todas as peças, quantidades e códigos (os tais part numbers) que formam um produto pronto.

Então eu fui ao quadro branco, fiz diagramas, setas e rabiscos explicando, em Inglês, minha ideia sobre o que ele havia perguntado. Levantei cenários alternativos e situações que poderiam ter uma abordagem diferente. De repente, explicando algo que eu conhecia bem, eu não estava mais nervoso. O Inglês, mesmo tosco e manco, era apenas um detalhe. Uma ferramenta.

O gerente gostou. O engenheiro balançou a cabeça aprovando.

Passei.

Gol.

No primeiro mês de empresa fui enviado para um treinamento de um mês na Suíça.

Pôr do Sol em Lausanne, Suíça. 2008.

Me enrolei para falar com os comissários de bordo. Me enrolei na imigração. Me enrolei para comprar pão. Me enrolei para entender que diabos o engenheiro que estava dando o treinamento estava falando. Eu esqueci inclusive as palavras para comprar um barbeador e um sabonete.

Na primeira semana lá fui chamado pelos outros colegas para conhecer uma casa noturna da cidade. "Tem música lá, é legal". Fomos.

"E aí, você bebe o que?"

  • Não bebo "Nada?"
  • Nada alcoolico. "Certo."

E pediu vodka com Virgin Cola para o bartender. Tomei meio a contragosto, mas pensei comigo que já estava ali, que tinha conseguido. Por que não relaxar e comemorar um pouco?

Não sei quantas eu tomei, lembro que conversamos a noite toda sobre a vida na Suíça, na França, no Brasil, sobre música e, em algum momento eu estava de volta ao hotel. Falando Inglês, pensando Inglês, alcoolizado demais para conseguir desligar a chavinha e voltar a pensar e falar em Português. A recepcionista me perguntou algo, eu respondi em Francês. Tosco, quebrado e errado, mas era Francês.

Descobri. O que me fez falar mais e melhor não foi o álcool, mas a completa perda de inibição. Exatamente como quando fiz o curso de com um amigo na sala. Dane-se que estou falando errado. As pessoas estão entendendo. O errado eu corrijo com o tempo e com a prática.

Aquele camarada sabia das coisas.

De volta ao Brasil, alguém no escritório encontrou um professor particular nativo que aceitou dar aula para três alunos por um preço pagável.

Vale lembrar que, também nessa época, descobri o Duolingo. Apesar das frases estranhas sobre tartarugas que falam e vacas, é gratuito e ajuda muito a melhorar o vocabulário.

Para mim esta foi a forma mais efetiva de aprender Inglês sem precisar sair do país. Se você tiver dinheiro para investir, recomendo de verdade. Quatro aulas por mês custavam uma vez e meia a mensalidade de um curso franqueado de bairro.

Dois anos atrás apareceu uma oportunidade de trabalhar fora. As coisas nessa empresa já não estavam boas, as chances de haver uma demissão em massa eram reais e eu já não estava mais fazendo as aulas particulares. Fiz o processo remotamente e a entrevista por Skype.

Reprovado.

"Gostei da conversa, você tem experiência, conhece as ferramentas, mas não senti firmeza no seu Inglês. Estude mais, pratique mais e, se você ainda tiver interesse, voltaremos a nos novamente falar em um ano".

Mais um chute na bunda. Hora de me mexer.

Voltamos a nos falar um ano depois. Dessa vez fui reprovado sem ao menos ir para a entrevista por Skype. Não tem problema, eu estava fazendo duas entrevistas por semana, toda semana, em Inglês, por Skype e telefone. Estava treinando durante o jogo. Era o que dava pra fazer.

Atualmente eu consigo conversar tranquilamente em Inglês, viajei para o exterior algumas vezes e consegui me virar bem conversando. Sites como o Linguee me ajudam demais a escrever, podcasts e vídeos em Inglês me ajudam a manter o cérebro acostumado com o idioma. O Duolingo ainda me acompanha, mas tem servido bem para aprender Holandês, Alemão ou Sueco.

Uma vez que você consegue fluência em um idioma, o esforço para conseguir fluência em outro é relativamente menor. Seu cérebro já passou por aquilo antes e consegue repetir o processo com menor esforço.

Meus próximos passo são conseguir um trabalho no exterior, conseguir uma boa pontuação no IELTS e, quem sabe, estudar lá fora. Por isso eu treino, treino, estudo e estudo. Sem um objetivo, um foco, uma necessidade real, dificilmente eu teria conseguido me mexer e me esforçar.

Assim como emagrecer, acordar cedo ou começar a fazer exercícios, a maioria das pessoas, incluindo eu, só se mexe quando a água bate forte na bunda.

Update em 18/05/2022: Depois desse texto eu passei num processo seletivo para uma empresa sueca, e morei em Estocolmo por dois anos, me virando na maior parte do tempo em Inglês. Nesse meio tempo fui aprovado também para uma vaga de Líder Técnico no Booking, em Amsterdam, com um processo também totalmente em Inglês, mas acabei recusando.

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