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Lucas Santos
Lucas Santos

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Será este o fim da carreira em desenvolvimento de software?

Recentemente li um post bastante interessante no Medium que dizia que a "Era de Ouro da programação" estava chegando ao fim. Que, assim como todas as coisas, quem hoje sabe escrever código e entende das minúcias do mundo digital, amanhã será somente outra pessoa qualquer. Assim como aconteceu no passado com a leitura e a escrita.

Primeiramente, o que seria a Era de Ouro da programação?

A era de ouro

Se você dissesse para qualquer pessoa em meados de 1600 que daqui há algumas centenas de anos teríamos redes sociais onde todas as pessoas do mundo iriam postar conteúdo escrito , você provavelmente seria taxado de herege ou então de maluco.

Isto porque, como todas as habilidades do mundo, qualquer tipo de nova ciência começa como um conhecimento especializado, vindo de uma necessidade de poucas pessoas e pesquisada por poucas pessoas. Depois, este conhecimento trazido de especialistas é aprofundado e abstraído por outros especialistas para que conceitos novos, mais simples, utilizem esta base sem que as pessoas que os usem sequer saibam das suas origens.

Um exemplo clássico. Você, programador ou programadora, já escreveu ou sequer leu uma linha de código em Assembly? Fortran? As poucas pessoas que já fizeram isso são pessoas que são muito entusiastas do mundo digital ou então tiveram um contato, mesmo que passageiro, com estas tecnologias. Isto porque, hoje, a desenvolvedora comum não precisa saber que MOV ax, cs é uma instrução essencial de um processador moderno.

E esta é considerada a Era de Ouro da programação. A era que estamos vivendo agora. Onde saber codar, entender de código, de "computadores", do digital é algo que está além da capacidade da maioria das pessoas do mundo. Isto porque, para aprender essas capacidades, você precisaria se desviar do caminho "comum" de uma escola padrão. Tanto é que cursos de informática são considerados extracurriculares.

Como Tim O'Reilly - fundador da O'Reilly media, que toda pessoa dev já deve ter visto - citou neste mesmo artigo:

"Eu acho que a era de ouro das últimas duas décadas onde você pode se tornar um programador e você vai ter um emprego está meio que no fim... Programar hoje é mais como saber ler e escrever. Você simplesmente precisa saber isso."

Mas, será que, com o aumento da demanda por devs, saber programar deixará de ser um diferencial e se tornará um requisito? Não só para quem é dev, mas para todas as pessoas do mundo?

E será que, com isso, a quantidade de pessoas que saberiam programar no futuro seria tão alta que a demanda não acompanharia? Então estaríamos ao mesmo tempo ajudando a área de desenvolvimento quanto matando o que nos torna valiosos? Seria esse o fim da carreira em tecnologia como conhecemos?

A viralidade da ciência

Esta não é a primeira vez que vemos uma nova especialidade surgindo com este boom, antigamente as pessoas pensavam exatamente a mesma coisa sobre cientistas. Havia até uma promessa de que a ciência seria um conhecimento de todos o que, claramente, não aconteceu. Hoje vemos pessoas utilizando infinitas tecnologias baseadas em ciências naturais sem entender como elas funcionam.

O mesmo vale para a "arte da programação", muitas pessoas estão usando computadores e não sabem absolutamente nada do funcionamento dos mesmos. E isso é completamente normal... Hoje eu e você utilizamos o Waze, que é um GPS e nenhum de nós sabe a fundo sobre relatividade geral - provavelmente nem os criadores do Waze sabem sobre isso.

O que estou tentando dizer é que, para que possamos tornar a programação plausível para todos, a fim de que as pessoas comecem a entender as máquinas que as cercam, precisamos parar de afastar as pessoas que querem aprender. A área de desenvolvimento, assim como literalmente qualquer outra área, é super tóxica se pegarmos alguns pontos de vista.

Mas não podemos deixar a toxicidade de algumas pessoas afetarem a experiência de todas as demais pessoas que querem entrar na área e serem programadoras. Algo que me surpreendeu bastante está sendo o avanço de empresas como a Microsoft em plataformas no-code.

Como falamos no primeiro parágrafo, as pessoas que são mais versadas e especialistas na área de software conseguem abstrair conceitos mais complexos para conceitos mais simples a fim de formar uma fundação para outras pessoas poderem codar também. No discurso do Satya Nadella no Microsoft Ignite, a empresa apresentou uma proposta muito interessante para o futuro da Power Platform .

Para quem nunca ouviu falar, a Power Platform é uma solução no-code, ou seja, não é necessário saber programar, para criar automação em tarefas genéricas. Dentre elas temos várias ferramentas como o Power BI, que permite a melhor visualização de dados para quem está trabalhando com BI.

A ideia de que, no futuro, a disseminação da programação venha não por uma forma mais "pura" de código, mas sim através de plataformas desenvolvidas por empresas parece interessante, uma vez que mantemos a necessidade de haverem pessoas especializadas, e ainda sim buscamos reduzir o abismo que existe entre saber as pessoas que sabem e as que não sabem programar.

A Gangorra da Especialidade

Para quem está pensando que seu emprego pode acabar nos próximos cinco anos, há muito tempo, em 2016, escrevi o que viria a ser o meu primeiro artigo publicado. Neste artigo eu abordo justamente este tema. E, veja que, apesar de ter quatro anos de idade, estou ainda citando o artigo por aqui, porque ele ainda está atual!

Em determinado momento deste artigo eu comento sobre a diferenciação de devs generalistas e especialistas. Enquanto a oferta de empregos vai sim ficar menor para pessoas que estiverem no nível mais iniciante, outras ofertas para desenvolvedores mais avançados ainda continuarão existindo.

Isto acontece por causa do efeito gangorra. Este é um efeito bastante observado em todos os tipos de mercado de trabalho. Quando temos uma determinada tecnologia nova, não temos muitas pessoas que se destacam nela, portanto o mercado pende para a área de especialistas. Mas, no momento que esta tecnologia se tornar mais comum, e estas pessoas serão substituídas pelas generalistas, mais baratas, porém mais rasas no assunto. E aí a gangorra pende para o outro lado em um movimento perpétuo.

A área de tecnologia não irá acabar, muito menos a carreira de desenvolvimento. O que irá mudar muito é a quantidade de habilidade necessária para se manter no mercado de trabalho. Hoje, podemos estar falando de aplicações distribuídas como se fosse ciência avançada, daqui a dez anos isso pode ser tão comum quando um formulário.

O mercado futuro não ficará defasado de pessoas desenvolvedoras, mas sim de pessoas desenvolvedoras com a habilidade necessária. Hoje temos infinitos cursos iniciais sobre vários assuntos, porém estes cursos não passam muito do básico e muitas pessoas não tem a noção de que precisam estar estudando constantemente para se manter no mercado, portanto, estas pessoas formarão a base da carreira no futuro, onde hoje já há e no futuro haverá ainda mais concorrência para pouca demanda.

Precisamos investir em um conhecimento contínuo, que perpetua o conhecimento desde o básico até o avançado, ou pelo menos o intermediário, de forma que todos nós possamos estar presentes no mercado de trabalho no futuro, pois ele vai ser mais exigente. Lembre-se, a ciência de hoje é comum amanhã.

O futuro do mercado de tecnologia

A minha opinião sincera é de que, além da tecnologia, o futuro reserva uma oportunidade especial para quem se destacar em uma área que existe há mais ou menos 10 mil anos. As relações interpessoais.

Atualmente estamos tão focados na parte técnica do nosso trabalho que não temos tempo para focar nas pessoas e no que elas representam para a gente. Como eu sempre falo em todas as palestras que eu já fiz sobre o assunto:

Nós fazemos código, criado por pessoas, para pessoas. Não estamos codando para máquinas, mas sim para outras pessoas

Algo que muita gente hoje parece esquecer. No futuro isso será importantíssimo, pois além dos conhecimentos técnicos é muito importante que saibamos lidar uns com os outros.

Além disso, a técnica tende a ser abstraída para algo mais simples. Hoje temos intellisense, temos IDEs, temos várias ferramentas que pessoas há 30 anos não tinham. Atualmente é muito mais fácil desenvolver um software de qualidade e muito mais complexo do que era há 30 anos.

Então, assim como este artigo que li há um tempo também fala. Se escolhermos chamar de "Era dourada" a era que tiver a menor fricção possível para aprender algo novo e mostrar para o mundo, então estamos na maior era de ouro possível.

Nunca foi tão fácil criar um software quanto é hoje. Mas temos que tomar cuidado, pois o futuro não está tendendo para quem não pretende acompanhar as tendências, pelo que temos visto hoje, o futuro é daquelas pessoas que estarão constantemente evoluindo e buscando entender não só sobre suas próprias áreas, mas também sobre as áreas que as cercam.

Conclusão

Espero que tenham gostado deste artigo, ele foi uma tentativa mais pessoal de mostrar minha visão do mercado de tecnologia para o futuro embasando em outras visões que já havia visto no passado.

Eu acredito que ainda temos muito a mostrar e que a área de técnologia está só começando sua jornada!

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